A escolha correta do plano de tratamento em pacientes jovens passa por um diagnóstico criterioso. Conceitos de Odontologia minimamente invasiva e uma boa comunicação com o paciente e seus responsáveis. Dessa forma, é possível exemplificar uma abordagem para a obtenção de resultados adequados ao perfil do paciente.
É possível obter bons resultados estéticos com a Odontologia minimamente invasiva?
A Odontologia Estética, nos últimos anos, tem apresentado inúmeras técnicas relacionadas à obtenção de sorrisos harmônicos. As soluções minimamente invasivas atingem seus objetivos, porém podem gerar o efeito rebound com o passar do tempo. O caminho mais adequado para decidir o plano de tratamento passa por um bom diagnóstico clínico e radiográfico. Além disso, é preciso analisar as expectativas do paciente, faixa etária e proservação do caso, mesmo sendo aparentemente simples.
A invasividade em pacientes jovens
Em pacientes jovens, a preocupação sobre invasividade nos leva a decisões equivocadas. Essas decisões nos induzem a tratamentos inadequados que futuramente podem trazer novas oportunidades de desgaste. O Cirurgião-Dentista, por sua vez, tem uma formação baseada na preservação do tecido dental a qualquer custo. Portanto, nos conduz a necessidade de conhecer toda a extensão da lesão para removê-la com segurança sem desgastar esmalte e dentina sadios.
A hipoplasia de esmalte e a fluorose geram alterações estéticas importantes em pacientes jovens. Estes, por estarem inseridos em uma sociedade na qual a cobrança por uma imagem ideal é enfática, podem desenvolver uma perda de autoestima quando não apresentam o padrão estético predeterminado. As pequenas lesões brancas podem ser incipientes, praticamente imperceptíveis ou aparentes.
O clareamento dental, em muitos casos, aumenta a possibilidade de percepção destas lesões, gerando a necessidade de tratamento reabilitador. O uso do clareamento dental em pacientes jovens ainda é uma indicação discutida nos meios científicos. Isso se dá em função da alta permeabilidade da dentina e do volume do tecido pulpar principalmente em dentes anteriores.
Clareamento dental em pacientes jovens
Em casos onde se faz necessário o clareamento, a técnica utilizada foi preconizada por Haywood e Haymann, com a indicação de peróxido de carbamida 10% durante 14 dias em uso noturno com controle periódico pelo dentista. É importante ressaltar que a informação entregue ao paciente, antes do início do procedimento, é fundamental para a manutenção da relação paciente/profissional.
A evidenciação das lesões neste período podem gerar dúvidas em relação à condução do tratamento por parte do paciente. O diagnóstico pode ser feito por meio da transiluminação, utilizando o fotopolimerizador ou leds brancos, especialmente desenhados para diagnóstico. Em casos que não permitem a passagem de luz pela baixa translucidez do esmalte danificado, a imagem da lesão obtida por esta técnica é mais escura, sendo necessário o desgaste seletivo do tecido.
Poupando o esmalte sadio
Para atingirmos esse objetivo, o uso de pontas diamantadas de alto potencial de corte é contraindicado. O jato de água das peças de mão em alta rotação mascara estas lesões, dificultando a correta identificação do que deve ser removido. O uso de instrumentais de rotação elétrica microprocessada com brocas multilaminadas ou técnicas de preparo com ultrassom facilitam o processo.
Lesões em esmalte são mais bem evidenciadas quando este é desidratado, sendo necessária a checagem com o jato de ar, associada ao uso da transiluminação. A técnica adesiva indicada é a de total etch, pois o remanescente certamente será composto de uma maior porcentagem de esmalte, menos sucetível às técnicas autocondicionantes.
Após o uso do ácido fosfórico no condicionamento, o esmalte também pode apresentar uma característica mais opaca pela perda do brilho característico. Neste momento, caso não se tenha certeza da qualidade do preparo realizado, pode-se ser levado a um desgaste complementar, o qual poderia atingir tecidos que não deveriam ser removidos.
Durante o processo restaurador, neste tipo de caso onde está envolvida uma maior quantidade de elementos a serem restaurados, a hidratação do esmalte é um fator importante para não haver uma falsa impressão de lesões remanescentes. Para evitar o ressecamento, as restaurações foram feitas individualmente e os dentes preparados foram cobertos com algodão umidificado para manter as características ópticas. Por tratarem-se de restaurações incipientes realizadas com esmalte microfill, o processo de polimento é simples com o uso de sistemas de discos ou borrachas abrasivas.
Relato de caso
Paciente de 15 anos, sexo feminino, apresentava lesão hipoplásica em esmalte em vários elementos superiores anteriores. Após o diagnóstico criterioso e discussão com os pais da paciente, foi proposto o tratamento restaurador em resina composta com o prévio clareamento dental de uso caseiro assistido pelo profissional. A técnica é descrita a seguir.
Foto 1 – Aspecto inicial
Foto 2 – Aspecto inicial intraoral. Nota-se o desafio da estratificação com o paciente em topo-a-topo
Foto 3 – Transiluminação incial do paciente com o objetivo de identificar a profundidade da lesão (Valo, Ultradent, EUA)
Autor
Marcelo Alves
Professor do curso de Especialização em Dentística da Funorp Forp/USP; Prática em clínica privada
Referências:
1. Muñoz MA, Arana-Gordillo LA, Gomes GM, Gomes OM, Bombardia NHC, Reis A, Loguercio AD. Alternative Esthetic management of Fluorosis and Hypoplasia Stains: Blending Effect obtained with resin infiltration technics. J Esthet Restor Dent 2013;25:32-39
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4. Alves M, Junqueira A.Técnica de clareamento associado em paciente com pigmentações intrínsecas. Odonto Magazine 2013; Janeiro:50-53
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